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domingo, 24 de julho de 2011

ESCRITO COM TINTA VERDE

A tinta verde cria jardins, selvas, prados,
folhagens onde gorjeiam letras,
palavras que são árvores,
frases de verdes constelações.

Deixa que minhas palavras, ó branca, desçam e te cubram
como uma chuva de folhas a um campo de neve,
como a hera à estátua,
como a tinta a esta página.

Braços, cintura, colo, seios,
fronte pura como o mar,
nuca de bosque no outono,
dentes que mordem um talo de grama.

Teu corpo se constela de signos verdes,
renovos num corpo de árvore.
Não te importe tanta miúda cicatriz luminosa:
olha o céu e sua verde tatuagem de estrelas.




Octavio Paz


sexta-feira, 15 de julho de 2011

E aí!

 E aí meu caro ser? Como posso assim estar?
 Entre devaneios e solenidades surpreendo ao ver os atos que regem nosso tempo.
 Tempos espiralados, lineares, ondulados...
 Tempo é tempo!

 Acordo, deito e penso.
 Quando posso tornar ao fato que lembrei?
 Não gostaria de remontar os gestos, nem a situação ao qual o evento ocorreu.
 Tempo é história, mudança e progresso,
 falta um passo, um dia, uma semana para o Prometeu aparecer.
 A lua não auxilia mais nos ritos de evocação!
 Quero observar além daquele olhar na escadaria, no escuro, do barulho que se anula...

 

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Quietação frenética

 Reciprocidade? Padrão? Barulho? Lona? Preciosidade? Normal? Verdade? Julgar? Mar? 

 Há dois minutos encontrei um conto, a reciprocidade da nossa relação era simples e sincera. Um dependia do ato de ser escrito para realmente vir a ser, o outro dependia do lúdico para também vir a ser. Não existia padrão daquilo que poderia vir a ser em nenhum dos dois lado, apenas foi percebido um barulho do encontro! O som de algo como o vento, forte como se estivesse batendo numa lona durante o vendaval, a preciosidade daquele momento era... Não sei, normal, talvez?
 A verdade de quem experimentou ou pode vir a experimentar aquele ato, é difícil de ser desvendado pelos sensores que nos adaptam, mas, existem exceções. Tente julgar o mar!


    

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Um por todos

Do ventre chão da terra mãe
Nasce o herói improvisado
Querido filho pranteado da fortuna e do acaso
Avante, um por todos e todos por um!
Ficam das lutas ao longe
Duas medalhas pregadas em peitos de bronze
E as bandeirinhas e as rifas
O foguetório e a fanfarra
Meio velório, meio farra
O sentimento dos teus pares
Herói dos escolares e das lavadeiras
Ó Deus das moças solteiras
Que rezam ao teu retrato sobre a penteadeira
Eu te conheço, sei o preço da fama
E não esqueço
Que deitei em tua cama em teu berço
Eu sei teu preço, eu te conheço
Meu oportuno herói
Eu lavo as mãos, Pôncio cônscio pilhado em flagrante
Lavo as mãos e prossigo adiante
Eu por mim mesma
Todos por mim, meu oportuno herói

 " A tese de Eros e Civilização, mais completamente desenvolvida no meu livro One Dimensional Man*, era que o homem só podia evitar a fatalidade de um Estado de Bem - Estar Social através de um Estado Beligerante mediante o estabelecimento de um novo ponto de partida, pelo qual pudesse reconstruir o sistema reprodutivo sem aquele "ascetismo do mundo interior" que forneceu a base central para a dominação e a exploração. Essa imagem do homem era a negação determinada do super-homem de Nietzche: um homem suficientemente inteligente e suficientemente saudável para prescindir de todos os heróis e virtudes heroicas, um homem sem impulsos para viver perigosamente, para enfrentar o desafio; um homem com a boa consciência para fazer da vida um fim em si mesmo, para viver com alegria uma vida sem medo. [...] a nova direção de progresso dependeria completamente de oportunidade de ativar necessidades orgânicas, biológicas, que se encontram reprimidas ou suspensas, isto é, fazer do corpo humano um instrumento de prazer e não de labuta. "   (MARCUSE, p. 15-16, 1955)

  Como pode a letra de uma música contemplar um parágrafo central da pesquisa de um célebre pensador? Ainda escuto que para que tal entendimento ocorra, é preciso estar em um determinado local em um determinado momento, e que esta ocorrência é única. Concordo que a ocorrência seja única por conta do indivíduo que aprende aquele contexto, considerando sua história que proporciona disposições para tal absorção. Mas de certa forma estamos todos dimensionados numa única realidade, para Marcuse opressora, sua propagação nos indivíduos ocorre por diversas formas,subjaz em todas as dimensões da realidade, captadas de diferentes modos por nós seres humanos. 
 Por isso ocorre estas diferentes expressões da mesma problemática. Algumas descritas em versos dentro de um contexto sonoro, outros por estritos textos, densos e em muitos momentos sombrios, devido a vivencia histórica do autor. Ambos com o mesmo desejo de reativar algo perdido na ambiguidade do desenvolvimento do ser humano.         

Quase!


 Espero não concorrer com o Calvin nessas cascas de banana na prova de Lógica! rsrsrs

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Alimentaram meus delírios

 Como posso ser tão idealista assim? Há fome de expectativas concretas, e há fome de sonhos para ainda serem sonhados. Não me sacio de uma vez, aos poucos olho, ignoro e me envolvo entre todos os cárceres apreendidos.
 Mas agora uma possível expectativa pode dar vazão ao desejo, por mais alguns instantes me consolo. Ainda curto os ideais que tanto delírio, que sombrosamente podem ser reais. Conheço meus transtornos, conto mais uns contos e fico por aqui. A ansiedade espera e o acaso responde, o que busco é a suavidade dos atos, sinceros, tímidos ou covardes em suas sutis dimensões do processo.  

sexta-feira, 1 de julho de 2011