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sexta-feira, 10 de junho de 2011

Iê!

 Esse ano não armei meu berimbau, não toquei São Bento Grande, Santa Maria, Benguela, muito menos Iúna, verga, cabaça e caxixi se distanciam cada vez mais no meu quarto. Quando trouxe pra Marília o maleiro do ônibus perguntou se era uma arma, comicamente respondi que podia ser, depois quando resolvi tocar não consegui montar, chamei uns amigos para ajudar e finalmente com 3 pessoas armamos o berimbau.
 O som era o mesmo, mas a violência de toda sua vinda e montagem resultou fortes mudanças em suas fibras. Meu desejo de lembrar as velhas rodas, o conforto daquele som simples e delicado que me proporcionava felicidade, rapidamente se dissolveu em tristeza. O berimbau estava mau rezado, aquele esforço não era sinal de coisa boa, todos muito insistentes juntos resistiram e montaram o instrumento, depois daquele dia a verga nunca foi a mesma.
 Existe um mito dizendo que o berimbau surgiu do assassinato de uma bela jovem diante de um rio ao saciar sua sede, de seu corpo nas águas o instrumento se torna, e de seu espírito emerge o som. Um ato violento em meio plácido originou o instrumento tocado em rodas de capoeira, coordenando o ritmo do jogo. Enquanto tocava percebia que o ritmo estava em minhas mãos, se a roda era pra ser tranqüila ou mais rápida conseguia controlar, tinha o poder bem canalizado.
Agora não sei onde esta força malandra, simples e delicada se encontra, sua ressonância ecoa mas, não vibra, esta não é uma lei física que gostaria de quebrar, não tenho condições para isso mas, estou sem ar para reconstruir suas leis.
 (Lindas palavras do Mestre ToniVargas neste vídeo)